• Prof. Carlos Augusto Pereira dos Santos Possui Graduação em ESTUDOS SOCIAIS pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA (1990), Mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (2000) e Doutorado em História Do Norte e Nordeste do Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (2008). Atualmente é Professor da UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU - UVA. Leciona as disciplinas de Historiografia Brasileira e História do Brasil I e II. É tutor do Programa de Educação Tutorial - PET HISTÓRIA/UVA. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: militancia comunista, ditadura, cotidiano, cultura e trabalhadores urbanos. conheça o grupo de pesquisa Cidade, Trabalho e Poder. Clique Aqui
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Galera, não é por nada não, mas a notícia veiculada neste post tem a ver comigo. Como? Perguntarão vocês... É que o pesquisador mostrado na moto em primeiro plano, o Prof. Dr. Francisco Carlos Teixeira, da UFRJ, foi meu orientador no Mestrado. Chico pesquisa sobre guerras e fuça os arquivos da Alemanha há algum tempo. Em recente evento promovido pela Revista de História da Biblioteca Nacional, ele afirmou que Hitler teria dao ordens de bombardear o Brasil. Confiram a matéria:

Existe alguma guerra justa? Existe alguma razão por que devemos batalhar? Um motivo pelo qual pegaríamos em armas e mataríamos e estaríamos dispostos a morrer? Foi tentando responder a essas questões – e a outras, mais pontuais – que os pesquisadores Francisco Carlos Teixeira, professor titular de História Moderna e Contemporânea da UFRJ e professor da Escola Superior de Guerra e da Escola de Guerra Naval, e Adler Homero Fonseca de Castro, historiador e conselheiro-curador do Museu Militar Conde de Linhares, se juntaram para debater no Biblioteca Fazendo História.

Entre as grandes revelações do evento, organizado pela RHBN, na tarde de terça-feira (26), o professor Francisco Carlos contou que em suas pesquisas descobriu que Hitler exigiu o bombardeio ao Rio de Janeiro, logo após Vargas declarar que o Brasil entraria na 2ª Guerra Mundial ao lado dos aliados. Segundo Francisco Carlos, os alemães chegaram a enviar uma “matilha” de submarinos para o Atlântico, contra a vontade e os conselhos do ex-embaixador alemão no Rio, mas que por sorte foi desviada para afundar um navio de mantimentos que seguia para a Inglaterra, pela costa africana.

O Biblioteca Fazendo História lotou o auditório Machado de Assis da Biblioteca Nacional, no Centro do Rio. O assunto – guerra – seguia o caminho iniciado pela capa da edição da Revista de História de julho, que traz artigos sobre as dez batalhas que desafiaram o Brasil. Adler, inclusive, assina um dos textos, sobre a batalha de Porongos, na Revolução Farroupilha.

“É válida uma guerra para suprimir a escravidão? E para acabar com dominação de uma nação?”, perguntou Adler, em sua participação. No momento do debate, Francisco Carlos respondeu: “Guerra é um inferno. Melhor não começar. Ao começar, não se pode controlar”, e completou em outro momento: “Não se existe guerra boa.” Porém, ao falar de como nos comportamos com relação à Guerra do Paraguai, fez uma declaração polêmica: “Por que temos vergonha de falar de nossas guerras? Principalmente daquelas que ganhamos?”

Adler, por sua vez, afirmou que a resposta não é simples e levantou ainda mais a dúvida quando lembrou episódios em que a própria população exigiu uma resposta militar e armamentista do Estado para se sentir mais segura.

“Em 1711, os habitantes de Salvador exigiram que o governo defendesse a cidade, porque tinham medo de serem invadidos pelos franceses”, contou lembrando outro momento, já no século seguinte, em que barcos ingleses chegaram à Baia de Guanabara e os cariocas exigiram proteção do governo. “A sociedade antiga vivia com medo. Só no Rio, havia 124 fortalezas, que hoje são 30. Elas não foram construídas para virar um monumento histórico.”

O professor Adler defendeu também que a guerra nem sempre deixa consequências apenas negativas. Citou como exemplo as guerras holandesas, que desestruturaram a economia açucareira, dando possibilidade aos escravos de se juntaram em quilombos, proporcionando um espaço aos africanos que nunca haviam tido no Brasil. Ainda no mesmo episódio, lembrou de Henrique Dias, que comandou um regimento de mulatos e negros, com a promessa de liberdade para quem participava do seu grupo. Era uma das poucas oportunidades de se alforriar. “Negros comandados por negros: isso só aconteceu no Brasil. Porque ser oficial era nobre”, explicou ele, recordando que apenas a partir de 1826 negros poderiam ser – oficialmente – oficiais. “Mas no Brasil sempre se deu um jeitinho”, brincou ele, que lembrou também o caso de Dom Obá, o tenente que, já na segunda metade do XIX, visitava o palácio do governo no Rio.

Na tentativa de acabar com alguns mitos criados em relação ao Brasil e aos brasileiros, Adler relembrou episódios do período da Independência brasileira. Em vez de apenas um evento simbólico, cristalizado pela imagem de D. Pedro I às margens do Ipiranga dizendo “independência ou morte”, ele citou as diversas batalhas que existiram na Bahia até anos após o 7 de setembro. Contou também detalhes sobre o episódio que ficou conhecido como Dia do Fico, para contrariar a ideia de que os brasileiros somos naturalmente pacíficos.

“No dia 9 de janeiro, cerca de 10 mil pessoas foram ao Campo de Santana, no Centro do Rio, exigir que o príncipe ficasse no país, enquanto tropas portuguesas, com pouco mais de mil pessoas, se posicionavam sobre o Morro do Castelo, que hoje não existe mais, para bombardear a cidade”, contou ele, lembrando também da Guerra do Paraguai. “Essa versão de que o Brasil combateu os paraguaios por uma pressão dos ingleses é bastante discutida, já que desde 1863, as relações entre Brasil e Inglaterra estavam rompidas. Outro argumento falso é do Paraguai ter uma indústria forte. Eles tinham um parque menor que o do Brasil”, afirmou, chamando sem meias-palavras de “lixo”, a obra “Guerra do Paraguai: genocídio americano”, de Julio Jose Chiavenato. “Não foram 1 milhão de mortos, mas 200 mil de uma população de 400 mil paraguaios – que já é um número bastante impressionante. E eles morreram principalmente de fome e cólera além, é claro, de baixas no front.”

Se a palestra de Adler foi mais “histórica”, com citação de datas e contextualizações, a de Francisco Carlos foi mais “filosófica”. Ele tentou fugir da semântica da palavra "batalha" para se ater ao que, em suas palavras, realmente importava: a violência de episódios entre grupo de indivíduos. Durante sua apresentação, ele tentou explicar a “natureza” da guerra e do uso da violência nos Estados. Ele disse que as havia separado em sete “razões”, que, não à toa, remeteriam aos sete selos apocalípticos da Bíblia. Seriam elas: teológica, patológica, biológica, psicologizante, realista, marxista e liberal.

Sobre a explicação teológica, a mais antiga, Francisco Carlos não entrou no pormenor das guerras religiosas, mas em como os textos sagradas das principais religiões do mundo afirmam, de modos diferentes, que a guerra seria a “resposta de Deus para o distanciamento dos homens ao comportamento divino”. E contou: “Não por acaso a Conquista, a Fome e a Morte, elementos ligados à guerra, são três dos quatro cavaleiros do Apocalipse – e o quarto é a própria Guerra.”

A segunda “explicação” mostraria que a guerra é uma “doença do homem e da sociedade humana”, determinando que “aquele que atiça é um louco e insano”. Francisco Carlos citou os livros populares sobre a 2ª Guerra Mundial que tratam Hitler como um lunático. “O mesmo aconteceu com jornais que repetiram acriticamente termos similares para se referir ao homem que matou várias pessoas na Noruega.”

A explicação biológica demonstraria que o homem, apesar de ter por volta de 10 mil anos de verniz cultural, ainda carrega dentro de si um “macaco assassino”. “Essa ideia é extremamente forte, principalmente entre os componentes fascistas”, contou, mencionando os frequentes elogios de Mussolini à guerra como uma forma de purificação da sociedade, em que só sobrevive o mais forte. Essa ideia, diz ele, está carregada de um darwinismo biológico, que é alimentado por outras teorias que mostram que, entre os animais sociais, há determinados comportamentos que se repetem sempre, como a questão da hierarquia, a territorialidade e a rejeição à alteridade, à diferença.

Uma troca de cartas entre Sigmund Freud e Albert Einstein que recebeu o título de “Por que a guerra?”, além do conhecido ensaio de Freud “Mal estar na civilização” – ambos de tons filosóficos – dariam uma explicação psicologizante para as guerras. Segundo o austríaco, a guerra não seria uma oposição entre poder e direito, mas entre a violência e o direito. “Mesmo na sociedade de direito, a violência normatizada é indispensável, como acontece com a polícia”, observou Francisco Carlos. Para Freud, a explicação passaria por uma teoria dos instintos, por uma pulsão ou desejo, do instinto de vida, que preserva e une, e o instinto de morte, que quer matar, destruir. Eros e Tanatos, as personagens míticas para amor e a morte. “É importante ter uma dose de Tanatos em Eros. Não é à toa que Eros usa um arco e flechas.”

Já para alguns filósofos, como Hegel, a realidade básica da vida é a busca por poder, que só se consegue e se conserva com violência. “Todo poder se quer poder, ou ele é o inverso, impotência”, citou Francisco, dando o exemplo da sua quinta explicação que se desdobra na sexta, a Marxista. Essa seria a primeira razão otimista: a humanidade pode viver sem guerra. “A violência é a decorrência da dominação de classe”, segundo esse conceito. “Violência é produto de uma sociedade que quer congelar na história as divisões sociais. E a destruição das classes sociais é a possibilidade de viver sem a guerra”, explicou.

A sétima e última explicação é a do pensamento liberal, que é profundamente otimista e pacifista. “Em 1795, Immanuel Kant escreveu ‘A paz perpétua’ em que propõe a possibilidade de se acabar com a guerra”. Em dois entre vários artigos, o filósofo alemão sugere que os Exércitos permanentes devem desaparecer com o tempo e que nenhum Estado deve intervir na governança de outro estado. Kant sugere que haja ainda um tribunal mundial legislativo e judiciário, e as nações estariam sujeitas à decisão desse tribunal. “A ideia de ONU está em Kant. Mas não é fácil abrir mão das soberanias.” Para se realizar essa questão seria necessário o desenvolvimento econômico das nações, a interdependência entre os países, a prática da democracia e a criação do maior de organismos multilaterais. Francisco Carlos, porém, acha que essas sugestões, mesmo sendo tomadas em maior número nos dias de hoje, não solucionam as guerras. Para ele, contudo, estaria nas mãos do homem acabar com os restantes dos problemas, por meio de tomadas de decisões.

Como se vê, as guerras, apesar de terem diminuído em quantidade nos últimos séculos, continuarão acompanhando a trajetória humana.


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