• Prof. Carlos Augusto Pereira dos Santos Possui Graduação em ESTUDOS SOCIAIS pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA (1990), Mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (2000) e Doutorado em História Do Norte e Nordeste do Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (2008). Atualmente é Professor da UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU - UVA. Leciona as disciplinas de Historiografia Brasileira e História do Brasil I e II. É tutor do Programa de Educação Tutorial - PET HISTÓRIA/UVA. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: militancia comunista, ditadura, cotidiano, cultura e trabalhadores urbanos. conheça o grupo de pesquisa Cidade, Trabalho e Poder. Clique Aqui
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Chegou ao fim a novela "Lado a Lado" da TV Globo. Infelizmente não pude acompanhar a trama contextualizada na Primeira República, mas, muitos dos meus alunos acompanharam e comentaram alguns capítulos e episódios históricos mostrados como a Revolta da Chibata e a Revolta da Vacina. Sem abrir mão da consciência histórica é assim que costumo ver as telenovelas, sem falar que hoje elas são objetos de pesquisa de historiadores diminuindo o preconceito que até então a academia impunha a este tipo de representação da realidade. O blog, atento a isso traz uma reportagem sobre a novela acima referida. Acompanhe: 

Realidade em ficção

Chega ao último capítulo novela que se passa na Primeira República. Em resposta a leitor da Revista de História, historiadora comenta o programa e discute formas de apropriação do passado pela televisão

Vera Lúcia Bogéa Borges
8/3/2013
  • Divulgação
    Divulgação
    Intrigado com o enredo da novela Lado a Lado, da TV Globo, um leitor da Revista de História enviou uma pergunta à redação. A dúvida foi repassada à historiadora Vera Lúcia Bogéa Borges, professora de História da Unirio e autora de 'A Batalha Eleitoral de 1910: imprensa e cultura política na Primeira República' (Apicuri/FAPERJ, 2011), que aceitou o convite e se dispôs a respondê-la. Abaixo, Borges comenta o programa – cujo último capítulo vai ao ar nesta sexta-feira (8) - e discute formas de apropriação do passado pela televisão brasileira.


    Daniel de Sá Aguiar: Como historiadores enxergam a novela Lado a Lado, da Rede Globo, que trata de grandes aspectos históricos, como a questão do negro, da mulher e as revoltas no contexto da Primeira República?
    Vera Lúcia Bogéa Borges: No Brasil, a telenovela conquistou espaço na programação e ganhou destaque ao debater importantes questões que envolvem a cultura do país. Com certeza, as novelas de época como, por exemplo, a atual novela das seis, Lado a Lado, de uma emissora nacional, reforça esse traço ao apresentar ao grande público os relevantes debates da história brasileira no início agitado do século XX. Vários pontos são trazidos pelos autores João Ximenes Braga e Cláudia Lage em relação ao cotidiano da Primeira República (1889-1930). Entre os principais destacamos: a delicada convivência entre a dita elite branca e os afro-descendentes, a difícil sobrevivência dos periódicos (jornais e revistas) da pequena imprensa, a (in) tolerância religiosa com a presença das tradições do candomblé em setores da sociedade,  a indissociável relação do matrimônio, o uso da força por parte das autoridades para solucionar manifestações populares, como as Revoltas da Vacina e da Chibata, e o preconceito em relação ao samba.
    Mas, afinal, como os historiadores compreendem o processo de construção da narrativa de uma telenovela de época?
    A convivência não é confortável. Dito de outra maneira, existe certo preconceito acadêmico em relação ao gênero. Apesar de a telenovela ocupar a condição de uma das principais atrações da programação brasileira, a academia levou mais de três décadas para começar a refletir sobre seu espaço na cultura do país e o impacto no dia a dia dos telespectadores. Uma dos primeiros livros no campo das Ciências Sociais - Telenovela: história e produção, de Renato Ortiz, Silvia Borelli e José Mário O. Ramos – foi editado apenas em 1989. Posteriormente, várias outras reflexões vieram a acompanhar esse trabalho seminal. Por sua vez, as produções televisivas tomam suas precauções. No site oficial há uma nota: “a novela Lado a Lado não se propõe a mostrar o período histórico rigorosamente como aconteceu. Mas nesta coluna os historiadores resgatam os principais fatos que inspiraram os autores” A seguir, aparece o crédito de uma historiadora acompanhada por breve currículo. Portanto, os autores recebem subsídios de pesquisa da área para desenvolverem o trabalho, mas o fazem com liberdade poética.
    Nesse sentido, realçamos um momento da trama para ilustrarmos nossa argumentação: o divórcio de um casal da novela ocorrido em 1904. O episódio gerou imediatamente reação do público e de parte da imprensa. Como pode se falar em divórcio no Brasil no alvorecer do século XX? Afinal, esse rompimento legal do vínculo do matrimônio não aconteceu apenas através de uma lei em 1977? Sim! Afinal, por que os autores abordaram o assunto da separação pelo viés do divórcio?  

    A resposta da produção circulou pelos meios de comunicação e também está no site oficial da novela: “Em 1890, após a proclamação da República foi instituído o casamento civil, que se tornou obrigatório. No Decreto 181, os casais tinham direito ao divórcio, mas a indissolubilidade do matrimônio foi mantida, ou seja, sendo substituído pelo desquite, em 1916, quando foi aprovado o Código Civil Brasileiro”. Além disso, em alguns capítulos diferentes personagens estabelecem diálogos sucintos para explicar que o uso do termo divórcio não garante a possibilidade de estabelecimento de novo matrimônio para os divorciados, mas apenas a separação de bens e de corpos.
     A confusão foi estabelecida... E como ficam os historiadores diante desse equívoco? Os pesquisadores experimentam certo estranhamento isto porque, ao que parece, o tema foi tratado sem o cuidado de se evitar o pecado dos pecados para os historiadores, numa palavra o anacronismo, isto é, atribuir a uma época, ideias e práticas que são de outra época, portanto, que não a pertencem.  Como lembra o historiador e professor Fernando Novais: “e para o historiador, o anacronismo é o pecado capital, aquele que não pode ser cometido. O anacronismo é fazer um discurso histórico, isto é, reconstituir um ou uma série de eventos ocorridos num determinado momento, numa determinada região, sem esquecer o que aconteceu depois. O historiador conhece isso, mas os protagonistas não. A tentação de imputar aos protagonistas o conhecimento do que veio depois é muito grande e aí o historiador cai no anacronismo”.
    É verdade que os autores da novela não são historiadores, mas eles optaram por trazer a história para dentro da trama e deveriam ser mais criteriosos. O telespectador compreende a noção de divórcio a partir da atualidade e frequentemente tanto não tem conhecimento quanto não assiste necessariamente todos os capítulos para apreender a separação do casal pelo referencial de 1904. Por fim, a longa luta que garantiu a aprovação do divórcio pelo Congresso, em 1977, fica esvaziada e dificulta ao público em geral a percepção da grande conquista que representou para o país.
     FONTE:http://revistadehistoria.com.br/secao/artigos/pergunte-ao-historiador-1

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