Nascida como uma data de luta dos trabalhadores, hoje, a efeméride encerra novos significados e é apropriada por diversos setores do mundo do trabalho e da política. Abaixo pequeno trecho de nossa tese de doutorado em que avalia a data para os trabalhadores camocinenses
Portanto, nas associações e sindicatos onde havia alguma presença de comunistas, ou “socialistas”, como já se viu, a lembrança de se enviar um telegrama ao Senador Luís Carlos Prestes, ou se comemorar o Primeiro de Maio, é uma lembrança recorrente que, dependendo do contexto político, é comemorado com maior ou menor entusiasmo. Nos momentos de repressão, expressar sua simpatia ao líder poderia render dissabores. O sindicalista Sotero Lopes, por exemplo, foi fortemente espancado pela polícia por promover foguetório e pichações de muros com dizeres referentes ao aniversário de 50 anos de Prestes.
Diferentemente, no período da redemocratização, o contexto era outro. O Primeiro de Maio de 1946 foi especial, visto a experimentação de legalidade do Partido Comunista. O jornal “O Democrata”, órgão de orientação comunista no Estado do Ceará, passa a circular procurando recuperar um imaginário da militância comunista, noticiando fatos ocorridos durante o período de repressão, notadamente os acontecimentos de 1935-
As comemorações do Primeiro de Maio, portanto, são pensadas por um organismo associativo ou sindical, no caso de Camocim, pelo conjunto das várias entidades, que saem de seu espaço privado e se mostram nas ruas da cidade. No programa, as atividades alusivas ao Primeiro de Maio de 1946, constam desde alvorada, foguetório, sessão solene à passeata pelas principais ruas da cidade, visitando as sedes dos sindicatos, coroando com o comício na Praça 7 de setembro.
Contudo, hoje, as comemorações do Primeiro de Maio se ressentem da falta desse aspecto combativo e festivo de outrora. Quando a data recai em algum momento político importante, nacional ou local, as entidades tentam ainda realizar algum desfile. O desfile representa, hoje, não a festa ou a reivindicação do trabalhador, mas o desfilar burocrático das realizações de cada secretaria do governo municipal e das várias escolas “homenageando” um trabalhador sem rosto e sem nome. Outras vezes, organiza-se uma prestação de serviços básicos (medição da pressão arterial, expedição de carteira de identidade, corte de cabelo etc.) numa praça principal e uma disputa de algumas modalidades esportivas. Os sindicatos e associações fazem um caminho inverso, realizando alguma atividade alusiva à data em recinto fechado. Uma alvorada aqui, uma palestra ali, e o Primeiro de Maio vai perdendo seu conteúdo simbólico, sendo um mero feriado.
0 Responses
Postar um comentário