• Prof. Carlos Augusto Pereira dos Santos Possui Graduação em ESTUDOS SOCIAIS pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA (1990), Mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ (2000) e Doutorado em História Do Norte e Nordeste do Brasil pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (2008). Atualmente é Professor da UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAU - UVA. Leciona as disciplinas de Historiografia Brasileira e História do Brasil I e II. É tutor do Programa de Educação Tutorial - PET HISTÓRIA/UVA. Tem experiência na área de História, com ênfase em História do Brasil, atuando principalmente nos seguintes temas: militancia comunista, ditadura, cotidiano, cultura e trabalhadores urbanos. conheça o grupo de pesquisa Cidade, Trabalho e Poder. Clique Aqui
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Nascida como uma data de luta dos trabalhadores, hoje, a efeméride encerra novos significados e é apropriada por diversos setores do mundo do trabalho e da política. Abaixo pequeno trecho de nossa tese de doutorado em que avalia a data para os trabalhadores camocinenses



Na história do movimento de organização das categorias profissionais em Camocim, já se enfocou a presença da militância comunista na cidade, que, sem dúvida, irá contribuir com uma tradição de lutas que traz em seu bojo uma tentativa de se construir uma cultura operária, embora, como seria de esperar, com fortes doses de ideologização. Para tanto, os comunistas procuram um calendário de ações comemorativas relativas a determinadas datas, fatos e nomes do seu ideário.

Portanto, nas associações e sindicatos onde havia alguma presença de comunistas, ou “socialistas”, como já se viu, a lembrança de se enviar um telegrama ao Senador Luís Carlos Prestes, ou se comemorar o Primeiro de Maio, é uma lembrança recorrente que, dependendo do contexto político, é comemorado com maior ou menor entusiasmo. Nos momentos de repressão, expressar sua simpatia ao líder poderia render dissabores. O sindicalista Sotero Lopes, por exemplo, foi fortemente espancado pela polícia por promover foguetório e pichações de muros com dizeres referentes ao aniversário de 50 anos de Prestes.

Diferentemente, no período da redemocratização, o contexto era outro. O Primeiro de Maio de 1946 foi especial, visto a experimentação de legalidade do Partido Comunista. O jornal “O Democrata”, órgão de orientação comunista no Estado do Ceará, passa a circular procurando recuperar um imaginário da militância comunista, noticiando fatos ocorridos durante o período de repressão, notadamente os acontecimentos de 1935-36. A cidade de Camocim é lembrada com especial atenção pelo jornal, face ao desdobramento destes eventos que culminou com a morte de dois militantes comunistas mortos nos arredores da cidade, que vinham fugindo da polícia desde o Estado do Rio Grande do Norte, fato este que ficou conhecido como O Massacre do Salgadinho. A reportagem especial do jornal, recuperando esta tradição de lutas, elegendo heróis e associando a eles a conquista desse novo tempo, faz deste Primeiro de Maio uma peça histórica em que os comunistas se reconhecem nela, além de saudar a cidade como um lugar onde prospera este novo tempo.

As comemorações do Primeiro de Maio, portanto, são pensadas por um organismo associativo ou sindical, no caso de Camocim, pelo conjunto das várias entidades, que saem de seu espaço privado e se mostram nas ruas da cidade. No programa, as atividades alusivas ao Primeiro de Maio de 1946, constam desde alvorada, foguetório, sessão solene à passeata pelas principais ruas da cidade, visitando as sedes dos sindicatos, coroando com o comício na Praça 7 de setembro.

Como se sabe, tradicionalmente, o Primeiro de Maio está intimamente ligado com a história do movimento operário pela conquista do limite de oito horas de trabalho diário, regulamentação do trabalho feminino e de menores, luta por melhores condições de trabalho nas fábricas, dentre outras. A data, por exemplo, é uma alusão a um dos eventos que simbolizou essa luta, o Massacre de Chicago, ocorrido em 1886, onde vários operários foram mortos pela polícia numa manifestação pelo limite de oito horas de trabalho.No entanto, outras datas de lutas coincidem com o Primeiro de Maio e fazem-lhe referência.Camocim, embora não tivesse estado no plano das lutas operárias por melhores condições de trabalho, também teria seu massacre: O Massacre do Salgadinho, que contribuiu para este imaginário.

Contudo, hoje, as comemorações do Primeiro de Maio se ressentem da falta desse aspecto combativo e festivo de outrora. Quando a data recai em algum momento político importante, nacional ou local, as entidades tentam ainda realizar algum desfile. O desfile representa, hoje, não a festa ou a reivindicação do trabalhador, mas o desfilar burocrático das realizações de cada secretaria do governo municipal e das várias escolas “homenageando” um trabalhador sem rosto e sem nome. Outras vezes, organiza-se uma prestação de serviços básicos (medição da pressão arterial, expedição de carteira de identidade, corte de cabelo etc.) numa praça principal e uma disputa de algumas modalidades esportivas. Os sindicatos e associações fazem um caminho inverso, realizando alguma atividade alusiva à data em recinto fechado. Uma alvorada aqui, uma palestra ali, e o Primeiro de Maio vai perdendo seu conteúdo simbólico, sendo um mero feriado.


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